segunda-feira, setembro 03, 2012


Entre sonhos e desencantos me encontro imersa em pesadelos intermináveis. Dou voltas e mais voltas em perguntas sem solução. Sei todas as respostas para as perguntas erradas. Encontro caminhos e desvios me levam ao mesmo lugar. Desisto dos desvios e me perco em labirintos. E em cada labirinto escolho me perder ainda mais e sei que um dia me encontro.


Mairana M.

quarta-feira, agosto 08, 2012


Não sei explicar ao certo, se é dor, mágoa, ressentimento, ou qualquer outro tipo de sentimento. Mas sei dizer que dói. É uma ferida aberta, bem no meio de meu peito. Como a dor causada por uma batida. Um braço quebrado. Dói tanto que a respiração é quase impossível. Dói porque se foi, dói porque não volta. O silêncio e a ausência se tornam mais freqüentes do que risadas e abraços. E isso fere, como uma espada sendo cravada pelas costas. São chamadas de fases da vida, encaradas por muitos como algo normal, mas sempre deixam cicatrizes horrendas, que não saram, não curam. É difícil superar, mas talvez não seja impossível. Mascarar a dor atrás de sorrisos desmedidos, para nos mostrar fortes, inteiros. E tentando provar para todos, mas principalmente para nós mesmos que a dor pode ser superada, que ela pode ser ultrapassada e que nós podemos encontrar a felicidade após cada queda.

Mairana M.

De tudo, havia restado apenas o sabor das lágrimas que a acompanhavam em suas noites solitárias. Trancada em seu quarto ela admirava todos os objetos ao seu redor: aquele abajur que ele havia derrubado tantas vezes em seus momentos de euforia ou quando a jogava na cama tão abruptamente, aquela janela onde os dois ficavam abraçados, admirando o luar e conversando sobre tantas coisas, todas essas coisas que ela sentiria falta, todas essas coisas que ela almejava que retornassem e que entrassem por aquela porta trancada, quebrassem todas as fechaduras da casa e invadissem sua mente e carregassem todas as dores alojadas em seu peito. Ela sabia que nada daquilo voltaria, pois o seu desejo não era suficiente para apagar todas as dores que lhe foram causadas. Seu coração estava em frangalhos. Ela não dividia sua dor com ninguém, a dor era apenas sua. Alguns dias ela fingia esquecer tudo, enganava-se, portava-se como se nenhuma mágoa estivesse em seu peito e até conseguia acreditar nisso. Ah... ela mente tão bem para si mesma. Por fora a personificação da felicidade, por dentro, uma alma cansada de tanta dor. Mesmo não sabendo a força que tem ela se levanta a cada queda, sorri e mais uma vez, está pronta para o que for. 


Mairana M.

quinta-feira, julho 12, 2012

Uma história de amor ou algo do tipo


I
Chovia. Podemos avistar dois homens naquele prédio, que aparentavam conversar. Tudo estava tranquilo, até que, o homem mais velho sacou uma arma e apontou-a para o mais novo. Tudo estava acabado, ele gritava, ameaçava matar o outro homem. Ele tinha ódio, o outro apenas amor. O outro não revidava. Foi então que tudo escureceu, um som parecido com um raio naquele dia chuvoso fez com que tudo acabasse. O homem mais velho matou cruelmente o rapaz a sua frente. O que o levaria a isso? O que fez aquele homem chegar ao limite?
Direcionamo-nos ao foco de tudo, entramos em sua mente. A princípio tudo o que vemos é a escuridão, a chuva, imagens sombrias. O coração daquele homem estava tomado por sentimentos que o faziam mal e que feriam as pessoas ao seu redor, como aquele jovem que ele conhecia tão bem e tinha assassinado sem piedade. Agora vemos outras imagens em sua mente, momentos antes dele matar aquele outro homem, ele está lembrando-se de tudo o que aconteceu. Ele está conversando com o jovem, no começo não entendemos nada, ele não está concentrado, a conversa fica difusa. Mas, ele se concentra, ele quer lembrar-se de tudo e nós queremos saber o que aconteceu.

II
Em outra área da cidade, alguns dias atrás, entramos no que parece ser um quarto de um hotel vagabundo, paredes vermelhas um pouco mofadas pela umidade, carpete velho e apodrecido com marcas e talvez lembranças das pessoas que outrora estiveram naquele cômodo, uma poltrona velha, mas que de alguma forma talvez mística trazia beleza àquele quarto, da janela podemos ver o rio que circunda a cidade. Mudamos o foco para o centro do quarto, um criado-mudo, um abajur quebrado, um cigarro com suas cinzas queimando, um livro estrangeiro e a cama que nos chama a atenção, rangendo a cada movimento feito pelo casal. Ela tinha uma feição agradável, não era bonita, mas algo em seu jeito fazia com que ela atraísse olhares. Ele aparentava ser um pouco mais novo, era bonito, tinha um porte de quem praticasse esporte, tênis talvez, quem sabe. O casal não conversava, apenas encaravam-se, como se apenas com o olhar pudessem se comunicar, como se qualquer palavra dita fosse como uma pedra atirada em direção a uma frágil vidraça. Falar era proibido, talvez por tornar real o que eles queriam enxergar como “uma aventura, uma brincadeira, nada demais”, era isso o que eles diziam quando não estavam naquele cômodo sujo e ainda assim mágico. Então, ele, sempre era ele, resolveu quebrar aquele momento de cumplicidade, seria essa a palavra? sim, cumplicidade, aqueles dois tornaram-se cúmplices desde aquele dia em que conheceram-se, quanto a isso, por enquanto, basta sabermos que conheceram-se num bar, que também era próximo aquele prédio onde visitaremos num futuro próximo. Está ficando confuso? perdoe-me, mas estou apenas os guiando por essa história. Como eu falava, o rapaz quebrou o momento de silêncio e cumplicidade, ele disse estar cansado de sempre ir aquele lugar, queria algo novo, uma nova aventura, o quarto de paredes vermelhas mofadas pela umidade já não era mais tão vívido quanto no início, ela apenas acena como quem concorda e o silêncio reina mais uma vez.

III
Finalmente a memória do homem parado em frente aquele corpo banhado em sangue e sem vida, começava a ficar nítida. Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto ele era tomado pela primeira lembrança: ele estava um pouco mais jovem e com um recém-nascido em seus braços, chorava enquanto olhava a sua esposa sem vida naquela maca de hospital onde acabara de dar a luz a um filho que depois descobriria não ser seu.
Abana a cabeça como para afugentar aquela memória que tanto o perturbava, não queria mais pensar naquele dia. Olhou para o cadáver do homem que um dia tivera em seus braços, admirou-se de quão belo ele era e foi tomado por mais uma lembrança: ele já estava um pouco mais velho, ao seu lado, sua segunda esposa, com quem aprendera a amar novamente, ambos divertiam-se naquele bar, ele estava um pouco ansioso, iria reencontrar aquele rapaz que criara como se fosse seu filho, não se viam desde que ele resolvera viajar pelo mundo. O rapaz aparece muito belo, agora tinha porte de homem e parecia inteligente e experiente demais para sua idade, cumprimentam-se, o homem mais velho apresenta então sua esposa àquele rapaz, os três conversam a madrugada inteira, voltam para casa e continuam bebendo e conversando, o homem mais velho resolve ir para seu quarto, chama sua esposa que diz que vai depois, que quer conversar e beber um pouco mais com aquele rapaz, ele vai, os dois ficam. Novamente, abana sua cabeça, não conseguia suportar o quanto foi tolo durante todo aquele tempo. Cai de joelhos naquele chão ensopado de sangue e chuva e é tomado por mais uma lembrança, talvez a mais cruel: dois dias atrás, tinha resolvido voltar mais cedo do trabalho, queria sair com sua esposa e o rapaz que estava em sua casa desde que havia voltado de viagem, estava animado para sair com eles, estava sempre ocupado e na maioria das vezes não podia sair com os dois, ao entrar em casa, para seu espanto havia roupas espalhadas por toda a sala, no carpete duas taças vazias e uma garrafa de vinho pela metade, subiu as escadas, coração disparado, suas mãos tremiam na medida em que constatava algo tão óbvio desde o inicio, a porta estava entreaberta, do lado de fora do quarto ele viu sua esposa e aquele rapaz, queria poder gritar e dizer tudo o que estava entalado na garganta, que aquele rapaz havia tirado tudo o que ele tinha de mais precioso, que havia destruído todas as suas esperanças, que era o assassino da mulher que ele tanto amou e que só o criou pelo fato dele ser a única coisa que lembrasse sua primeira esposa, mesmo que fosse um erro, e agora ele estava com sua esposa, aquela que mostrou que ele poderia amar novamente. Mais uma vez aquele maldito bastardo estava arrancando sua felicidade, saboreando-a e rindo na sua cara. Ele já havia suportado muita coisa e aquilo foi a gota d’água.
Entre chuva, sangue e lágrimas aquele homem, mais uma vez, é tomado pela escuridão e pela certeza de que nem sempre o amor é algo belo.

Mairana M.

domingo, julho 31, 2011

38° graus


O sol raiava fortemente ao norte, temperatura de 38° graus. O dia pedia praia, apesar dos tantos compromissos já marcados. Desliguei o telefone e peguei o primeiro ônibus em direção a uma praia qualquer.
A praia estava cheia, eu não era a única a ter faltado ao trabalho. Rapazes esbeltos passavam caminhando. Alguns jogavam vôlei. Crianças corriam em direção à praia. Mulheres simpáticas se bronzeavam ao meu lado. Fechei os olhos e me deixei fluir pelos raios solares; gotas de suor começaram a correr.
Senti algum obstáculo se por entre o sol e meu corpo; abri meus olhos e vi um lindo sorriso e logo após olhos castanhos marcantes. Ele se apresentou como Carlos. Começamos a conversar descontraidamente e quando dei por mim, já havíamos nos beijado. Um beijo levemente salgado. Delicioso.
Fomos em direção a praia, se refrescar e apimentar mais aqueles beijos. Afinal era um domingo lindo e Carlos estava lá comigo, como sempre! As coisas não poderiam estar melhores.
O mar estava uma delicia aquela brisa gostosa, aquele mar sem ondas. E o sol lá, me bronzeando conforme os minutos se passavam. Apenas eu e ele. Só necessitava dele.
O cloro começou aos poucos a enrugar minha pele. Eu já estava naquela piscina há duas horas, dormindo, deitada sobre esse tempo gostoso. Em dentro de uma hora eu deveria ir ver Marcos. O amor de minha vida.
Sentei-me na borda da piscina e lembrei que amanhã eu precisava acordar cedo, eu precisava procurar um trabalho, já estou três meses desempregada. Preciso pegar as rédeas de minha vida.
Liguei o telefone; Não demorou muito para uma mensagem chegar.

“Onde você está meu amor? Anda dormindo de novo? O dia está lindo! Quando acordar me liga; podemos ir para alguma praia ou piscina. Eu te amo. Do seu namorado.

Paulo, 1 de Maio de 1999”