domingo, julho 31, 2011

38° graus


O sol raiava fortemente ao norte, temperatura de 38° graus. O dia pedia praia, apesar dos tantos compromissos já marcados. Desliguei o telefone e peguei o primeiro ônibus em direção a uma praia qualquer.
A praia estava cheia, eu não era a única a ter faltado ao trabalho. Rapazes esbeltos passavam caminhando. Alguns jogavam vôlei. Crianças corriam em direção à praia. Mulheres simpáticas se bronzeavam ao meu lado. Fechei os olhos e me deixei fluir pelos raios solares; gotas de suor começaram a correr.
Senti algum obstáculo se por entre o sol e meu corpo; abri meus olhos e vi um lindo sorriso e logo após olhos castanhos marcantes. Ele se apresentou como Carlos. Começamos a conversar descontraidamente e quando dei por mim, já havíamos nos beijado. Um beijo levemente salgado. Delicioso.
Fomos em direção a praia, se refrescar e apimentar mais aqueles beijos. Afinal era um domingo lindo e Carlos estava lá comigo, como sempre! As coisas não poderiam estar melhores.
O mar estava uma delicia aquela brisa gostosa, aquele mar sem ondas. E o sol lá, me bronzeando conforme os minutos se passavam. Apenas eu e ele. Só necessitava dele.
O cloro começou aos poucos a enrugar minha pele. Eu já estava naquela piscina há duas horas, dormindo, deitada sobre esse tempo gostoso. Em dentro de uma hora eu deveria ir ver Marcos. O amor de minha vida.
Sentei-me na borda da piscina e lembrei que amanhã eu precisava acordar cedo, eu precisava procurar um trabalho, já estou três meses desempregada. Preciso pegar as rédeas de minha vida.
Liguei o telefone; Não demorou muito para uma mensagem chegar.

“Onde você está meu amor? Anda dormindo de novo? O dia está lindo! Quando acordar me liga; podemos ir para alguma praia ou piscina. Eu te amo. Do seu namorado.

Paulo, 1 de Maio de 1999”

segunda-feira, julho 25, 2011

Demônios e Diabos

Criamos os chamados "demônios e diabos" para termos a quem culpar pelas infelicidades que nos procedem. Infelizmente, os únicos culpados pelos erros e glórias do nosso destino, somos nós.

Linderson Ch.

Relatos de uma madrugada vazia

Um sorriso de canto dos lábios é tudo o que podem oferecer um ao outro. Seus olhares são vazios, assim como o vazio da sala onde estão. Vazios por dentro e por fora. Ela acende um cigarro, ele se senta no sofá ao lado. Sorriem mais uma vez. Sabem que não há mais nada a se fazer. Ele olha mais uma vez para aquela mulher de nariz pontudo, sorriso meio amarelado e cara de psicóloga que sempre sabe o que estão pensando. Ela olha mais uma vez para aquele homem de barba mal feita, sorriso meio torto e com cara de artista que tem o bom coração e a sensibilidade pra falar e demonstrar o que sente. Eles se observam, cada movimento feito é analisado, mas sabem que isso é tudo, sabem que analisar-se não vai mudar a ferida deixada. Ela nota que muito tempo já se passou, são quase 11 horas e precisa voltar pra casa. Termina o seu cigarro. Ele percebe que chegou a hora da despedida e levanta-se. Oferece outro cigarro, ela recusa. Oferece uma bebida, ela recusa. Ela tem que voltar, já é tarde. Passou muito tempo naquele lugar. Ela encara aqueles olhos mais uma vez, mas agora não sorri, apenas o encara como se bastasse um olhar pra dizer tudo o que passava em sua mente. Ele também não fala nada, mas entende o que não é dito, se afasta e vai em direção à porta, abre-a, ela sai e ele sabe que nunca mais a encontrará de novo. Ao sair ela sente a sensação da liberdade, ele, a sensação de fracasso. Ele fecha a porta atrás de si, enche o seu copo de vodka, pega um cigarro e vai até a janela de seu apartamento. Passa alguns minutos olhando as luzes da cidade zombando de sua cara, mostrando o quanto estão vivas, enquanto ele morre por dentro. Abre a janela, talvez pra ver se ainda pode alcançá-la e dizer que não vá embora, que volte e que ele não viveria sem ela, mas sabe que já não adianta lutar, ele sente que esse foi o fim de sua jornada. Sente o gosto salgado de suas lágrimas, sorri pela última vez e saltando da janela, entrega-se ao vazio daquela noite fria em que ela o deixou.


Mairana M.




domingo, julho 24, 2011

Papai

Ele odiava ouvir essa palavra pronunciada da minha boca. “Vá tomar no cu”, ele dizia com raiva e eu apenas respondia: “Eu já tomei”. Ele não agüentava isso, eu via logo aquela pequenina lagrima cair e um sorriso brotava instantaneamente. Apesar dos pesares, nós nos amávamos e era aquela coisa sincera, deliciosa, prazerosa e com certeza perigosa!
 
- Você devia parar de me chamar assim, você sabe que eu não gosto desse epíteto.
- Mas por que papai? Não é você quem cuida de mim, me da carinho, amor, me alimenta?!
 
Seu rosto se enrubescia; perdi a conta de quantas vezes tivemos essa conversa e sempre era delicioso ver o rosto dele se avermelhando com tamanha facilidade.
Conhecemo-nos... Em uma sala de bate-papo apenas para adolescentes, entrei com o apelido “Anjinha14”. Virou rotina entrar naquela sala, sempre no mesmo período, já era conhecida e já tinha feito muitas amizades na mesma; eram praticamente sempre as mesmas pessoas, logo era fácil reconhecer alguém “novo” na área. Foi então que apareceu Marcos, o qual tomei desconhecida simpatia; morávamos na mesma cidade, tínhamos o mesmo gosto, trocamos elogios, o próprio chegara a me perguntar: “Você realmente tem apenas 14 anos?”. Lisonjeada respondi: “Claro que tenho, porque eu mentiria minha idade?”. Minutos se passaram e não houve qualquer resposta, qualquer sinal de vida do Marcos; decidi telefonar para ele, desde então eu só o tinha anotado na memória do meu telefone, porém nunca tive coragem de ligar, a minha típica timidez não me permitia à tamanha proeza.
Ouvi uma voz grossa e ríspida dizer um “ALÔ”. Gelei. Perguntei-me se aquele poderia ser o pai de Marcos.
 
- Alô. O Marcos está?
- Diga, sou eu.
 
Fiquei sem palavras, não sabia o que dizer. Decidi apenas ficar em silêncio.
 
- Alô! Alguém aí?
- Oi, sou eu, Anjinha...
 
Um silêncio assustador ficou entre nós.
 
- Desculpe-me Ligia; acho melhor não nos falarmos mais.
- Mas por quê? Eu gostei de você e você me disse o mesmo!
- Porém eu tinha a esperança de que você estivesse mentindo sobre sua idade.
- Claro que não! E do que isso importa? Se nós nos gostamos, deveríamos levar isso em frente...
- Eu posso ser preso meu anjo e você sabe disso.
- Isso não é justo! Vamos tentar... Ninguém precisa saber nada sobre nós!
 
E assim foi. Tenho que admitir que tivemos momentos difíceis; porém, isso ficará para outro dia. Hoje eu só quero comemorar os dois anos que estamos juntos e sinto que esses anos se transformarão em décadas.






Humor em 2d
   




quinta-feira, julho 21, 2011

Sada

Graça ao meu senhor consegui pegar o ônibus. Quinta sessão no mesmo dia; tudo está começando a melhorar.
Meu nome é Maíra, tenho 25 anos e sou sadista. Trabalho fazendo “sessões” desde os meus 23 anos. Sempre tive preconceito com essas formas alternativas de sexualidade, mas depois daquela transa...
Meu cliente já estava me esperando na porta (que eu gosto de chamar de “Meu Consultório”), se apresentou como Hugo, fazia tipo surfista (aparentemente filhinho de papai), olhos castanhos Carlos, cabelos de anjo, claros como o sol. Era tão charmoso, que quase tive pena durante um breve segundo.
... Lá estava eu, trepando com aquele desconhecido em um motelzinho barato. Estava tudo bom, o vai-e-vem, aquele calor... Comecei a mordê-lo, ele começou a gritar, dizendo que adorava aquilo e pedia para eu morder com mais força, se possível que sangrasse, estranhei de primeira, mas a excitação já havia me tomado, e o fiz. Os gritos de dor/prazer dele me enlouqueciam, causava-me uma sensação estranha, um prazer diferente, mais intenso do que os habituais. Logo mordidas se transformaram em arranhões, arranhões em tapas e tapas em orgasmos sucessivos.
E assim me transformei em uma sadista, se as portas não fossem a prova de som, vocês estariam neste momento ouvindo os gritos de Hugo.




Não sei porque, mas ultimamente ando bastante inspirado para escrever sobre certos assuntos ...

Humor
   

quarta-feira, julho 20, 2011

Nekrós

E foi assim a primeira vez que a vi, estirada no chão, aberta, com sangue escorrendo entre suas pernas. Visão linda foi aquela! Tirei uma foto, afinal, ela estava tão linda naquela posição, tão indefesa, tão frágil. Eu tinha que tê-la para mim! Levei-a para o Box; seu corpo já estava gelado. Esquentei a água e dei um bom banho quente; escolhi uma roupa a esmo e a coloquei sobre meus ombros e partimos.
O céu desabava em nós dois, relâmpagos e trovões gritavam. Chegamos rápido em casa, ti pus na minha cama, meus lábios encostaram-se aos seus, do seu lado sentei e fiquei ti observando... Observando durante horas e horas, até começar a perder sua cor, a se decompor e assim sumir; para sempre, da minha vidinha medíocre.




E pra não perder o humor...
  

Decepção não mata, não te ensina a viver e não te deixa mais forte. Ela apenas nos mostra de uma maneira nem um pouco agradável o que estava na nossa cara o tempo todo.


Mairana M.

domingo, julho 17, 2011

Preciso...


Preciso escrever algo, nem que seja uma frase perdida no léu, um verso mal plagiado de algum autor, ou até por acaso; um livro sem fim. 


Linderson Ch.

14 de Maio de 1998




02:12
O céu está nublado, talvez logo, logo possa chover um pouco. Não seria nada mal tomar um banho de chuvas, daqueles gelados, grossos, que levam a alma. Não seria mesmo.
04:35
Já está tarde para dormir, já, já o sol nasce e eu estarei lá para ver seu nascimento. Faz tanto tempo que não o vejo, ando ficando trancado em casa tempo demais.
06:10
Acho que preciso tomar algum providência referente a esse amor. Ficar do jeito que tá, infelizmente não dá, ou talvez quem sabe dê!
Pego o mp3, e aproveito o clima romântico/confuso, começo a escutar nada mais, nada menos que “Amores Platónicos”.
09:55
A vontade de pegar meu cel e ligar para ti é tão grande! Dizer o que realmente sinto, dizer que faço tudo por você; faço até maldade, destruo seu namorinho de merda. Só para você ser minha, apesar de não me importar, se você tem outros ou não.
13:01
Eu queria sonhar contigo, ti dar um pequeno beijo, mesmo que esse fosse em um rápido sonho ou até mesmo, pesadelo. Eu não me importaria, só em ter esse fútil prazer eu já estaria feliz.
15:58
Aula de Inglês. Enquanto todos falam os pronomes pessoais e possessivos, eu só penso “I Love You”.
Creio até que estou me iludindo, afinal, eu mesmo nem sei o que é o amor. Mas hoje em dia, é praticamente impossível encontrar alguém que realmente o sinta, que saiba como é a sua verdadeira essência. Mas uma coisa eu sei, “Eu te amo” não é um “Bom Dia”.
19:29
Hoje entrei no seu Orkut, vi suas fotos, seus sorrisos meigos, confesso que olhei rapidamente seus recados.
Ah, esse ciúme louco que me move a viver, me move a querer sempre mais e nunca ter o bastante, nunca estar satisfeito.
20:03
Por isso me bate aquela infelicidade, aquele desgosto de viver. Aquela vontade de morrer. Desejaria ser menos confuso, saber o que eu quero e não quero. É cansativo querer tudo e nada ao mesmo tempo.
22:15
Preciso ir dormir, descansar, repousar. Olhar para os lados, para o passado e para o hoje, para assim planejar o amanhã e assim, outra vez viver.

quarta-feira, julho 13, 2011

Solity

Contaram-me em certo dia nublado, no meado de julho, que havia um ônibus. Um ônibus com paradas, mas sem descanso, sem motoristas, mas com passageiros; passageiros solitários, que estavam à busca de algo, talvez um sentido, talvez um alguém, talvez até riqueza. Ônibus este que rodeava apenas um pequeno estado, de um pequeno país, perdido nas Américas. Logo então o procurei, o busquei; esse modo todo especial de ser, me instigava, delirei imaginando os seus passageiros, quem seriam? O que procuravam?
Lembro-me daquela lua cheia, naquela quinta-feira de outubro. Ouço um barulho. Vejo pela janela um ônibus; amarelado com listras azuis, escrito “Solity” entre o listrado. A curiosidade me move; arrumo-me tão rápido quanto posso; saio depressa, era visível meu afobamento. A porta abriu... Subi.
Tantos anos se passaram; pessoas conheci, cruzei meu destino com várias, algumas não passaram de semanas, outras tive a sorte de passar anos. Muitas das quais, não havia sentido algum estarem ali, justificativas triviais me deram, indaguei se havia verdade nas palavras ditas, mas porque haveriam de mentir?
Agradeço por enfim, ter terminado essa busca, demorei, de fato e como demorei. Digo alegremente, que dentro do Solity, eu chorei, amei, sorri e sofri; para apenas, compreender algo que eu já sabia, há tanto tempo. Infelizmente; à felicidade não pode ser buscada.