domingo, julho 31, 2011
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segunda-feira, julho 25, 2011
Demônios e Diabos
Relatos de uma madrugada vazia
Um sorriso de canto dos lábios é tudo o que podem oferecer um ao outro. Seus olhares são vazios, assim como o vazio da sala onde estão. Vazios por dentro e por fora. Ela acende um cigarro, ele se senta no sofá ao lado. Sorriem mais uma vez. Sabem que não há mais nada a se fazer. Ele olha mais uma vez para aquela mulher de nariz pontudo, sorriso meio amarelado e cara de psicóloga que sempre sabe o que estão pensando. Ela olha mais uma vez para aquele homem de barba mal feita, sorriso meio torto e com cara de artista que tem o bom coração e a sensibilidade pra falar e demonstrar o que sente. Eles se observam, cada movimento feito é analisado, mas sabem que isso é tudo, sabem que analisar-se não vai mudar a ferida deixada. Ela nota que muito tempo já se passou, são quase 11 horas e precisa voltar pra casa. Termina o seu cigarro. Ele percebe que chegou a hora da despedida e levanta-se. Oferece outro cigarro, ela recusa. Oferece uma bebida, ela recusa. Ela tem que voltar, já é tarde. Passou muito tempo naquele lugar. Ela encara aqueles olhos mais uma vez, mas agora não sorri, apenas o encara como se bastasse um olhar pra dizer tudo o que passava em sua mente. Ele também não fala nada, mas entende o que não é dito, se afasta e vai em direção à porta, abre-a, ela sai e ele sabe que nunca mais a encontrará de novo. Ao sair ela sente a sensação da liberdade, ele, a sensação de fracasso. Ele fecha a porta atrás de si, enche o seu copo de vodka, pega um cigarro e vai até a janela de seu apartamento. Passa alguns minutos olhando as luzes da cidade zombando de sua cara, mostrando o quanto estão vivas, enquanto ele morre por dentro. Abre a janela, talvez pra ver se ainda pode alcançá-la e dizer que não vá embora, que volte e que ele não viveria sem ela, mas sabe que já não adianta lutar, ele sente que esse foi o fim de sua jornada. Sente o gosto salgado de suas lágrimas, sorri pela última vez e saltando da janela, entrega-se ao vazio daquela noite fria em que ela o deixou.
Mairana M.