sexta-feira, setembro 24, 2010

Definitivo - Carlos Drummond de Andrade

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

quarta-feira, setembro 22, 2010


Em muitos trechos do caminho, às vezes bem longos, carregamos muito peso na alma sem também notar.A gente se acostuma muito fácil às circunstâncias difíceis que às vezes podem ser mudadas.
A gente se adapta demais ao que faz nossos olhos brilharem menos.
A gente camufla a exaustão. A gente inventa inúmeras maneiras para revestir o coração com isolamento acústico para evitar ouvi-lo. A gente faz de conta que a vida é assim mesmo e ponto. A gente arrasta bolas de ferro e faz de conta que carrega pétalas só pra não precisar fazer contato com as nossas insatisfações e agir para transformá-las. A gente carrega tanto peso, no sentimento, um bocado de vezes, porque resiste à mudança. Até o dia em que a alma, cansada de não ser olhada, encontra o seu jeito de ser vista e de dizer quem é que manda."

(Ana Jácomo)

sábado, setembro 18, 2010

DPL

Depressão Pós Livro



Com certeza você já deve ter sentido isso. Sabe aquela tristeza por ter acabado um livro? Então começa a achar que leu ele rápido demais, que foi com muita sede ao pote. Eu concordo que certos livros poderiam ser eternos e nunca ficariam chatos ou entediantes. Entramos naquele mundo, aquele mundo feito com maestria pelo escritor; no qual nos apaixonamos e enamoramos os personagens, suas aventuras ou até desventuras. Os finais às vezes ficam na imaginação, às vezes são tristes, ou até felizes e mesmo assim, fica aquela tristeza por ter acabado o livro. Mas a vida é assim, tudo tem seu começo, meio e fim. Nada é eterno. E sempre há uma história nova para ler, um novo livro para se apaixonar.

sexta-feira, setembro 17, 2010

Escrever


Escrever me faz evoluir, alimenta a minha alma. Cada palavra escrita é como um pedaço meu que eu entrego e que expressa o que sinto. Uma parte de mim é deixada em cada texto que escrevo. As minhas opiniões e percepções intensificam-se. Às vezes é como se cada texto escrito desse origem a um novo ser, uma nova parte de mim desconhecida e isso aumenta a minha insana vontade de escrever mais e mais. Assuntos banais agora me interessam. Quero descrevê-los. Explicá-los. Desenvolvê-los. Quando escrevo, o meu lado que não consegue expressar sentimentos é isolado e dá espaço aquele que consegue expor tudo o que sente, sem medo algum. Escrever para mim é abraçar a minha alma e escutar tudo o que ela tem a dizer, é prestar atenção ao que sempre grita dentro de mim e não consigo ouvir, é dar atenção a mim mesma. Você já experimentou essa sensação? Abraçar a sua alma, prestar atenção em suas palavras e depois transcrevê-las para que outras pessoas ou apenas você mesma consiga entendê-la? Eu faço isso constantemente, como estou fazendo agora. Estou aqui ouvindo tudo o que minha alma tem a dizer e essa sensação me deixa maravilhada, é como se eu pudesse tocar a minha alma, tê-la bem ao meu lado e simplesmente conversar com ela, entendê-la melhor.

Escrever me dá asas, posso voar na minha imaginação. Posso fazer o que quiser e pensar o que quiser sem me importar com mais nada. Escrever é organizar os meus pensamentos mais incompreensíveis. Quando escrevo compreendo os meus defeitos e qualidades, me conheço melhor. E assim, quem lê também me entende, não completamente, mas o suficiente.

Escrever para mim é me descobrir nova e revigorada a cada parágrafo. É me conhecer cada vez mais. Escrever é me expressar. E essa foi a forma que encontrei para expor o que não consigo simplesmente falar. Por isso escrevo.


Texto: Mairana M.

quinta-feira, setembro 16, 2010

Caio Fernando Abreu


Jamais teria sido guerreiro ou explorador de novas coisas ou um descobridor ou um cientista ou um astronauta: seu heroísmo residia na defesa, não no ataque. O máximo que pediria a Deus, se acreditasse nele -e acreditava- seria não permitir jamais que saísse de si próprio, nem avançasse além do que, descuidado, já avançara. Pois que, avançando, era obrigado a anexar o que descobrira, e não tinha forças nem vontade de reformular todos os dias o seu ser de cada dia. E olhando fora de si, pressentia avisos, seculares avisos de sangue de que o que o esperava não tardaria. A isso chamava, amável, de uma esperança. Em nenhum momento permitiria a si mesmo duvidar da concretização das esperanças, do que chamava esperanças.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Tati Bernardi


Eu me descubro ainda mais feliz a cada pedaço seu e de tudo o que é seu. Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer. Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre? Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora. E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.

sábado, setembro 11, 2010

Jamais esquecerei

Eu já estava cansado da minha rotina, daquela monotonia. Dormir, comer, dormir, comer. De interessante na minha vida? Nada! Ela era praticamente uma mentira, com 19 anos eu ainda era virgem, mas meus amigos nem sonhavam, pensavam que eu já havia perdido com uma puta qualquer, queria eu ter perdido com uma puta qualquer, teria sido bem melhor. Não posso dizer que aquele dia estava bonito, que era um dia especial, especial pra quem? Para o Papa? Para o presidente? Porque para mim mesmo não. Dói-me toda vez que me lembro daquele dia, cheguei até em pensar que teria sido melhor eu ter morrido, por algum acidente de carro, engasgado com uma ervilha, ou sei lá.
Não me perguntem o que eu teria feito se eu pudesse ter voltado no tempo, já pensei em tantas coisas, talvez nada, talvez tivesse o matado ou talvez, talvez.
Nas minhas andanças pela cidade, conheci de velhos a jovens, de homens a mulheres. Cheguei até ter um rolo com uma coroa casada, mas foi coisa de um dia, depois, fingiu que nem me conhecia, eu fiz o mesmo, se ela não queria algo sério, eu mesmo que não iria querer.
Entrei em um barzinho, recém inaugurado, bem aconchegante, havia muitos caras lá bebendo e conversando, as mesas estavam todas cheias, havia uma que só havia um rapaz, de aparentemente uns 30 anos, perguntei se eu podia sentar e ele respondeu que sim, com um sorriso aberto e sincero. Pedi uma cerveja ao garçom e começamos a conversar. Ele era bastante simpático, trabalhava em uma empresa próxima dali, não me lembro qual era seu cargo nela, ficamos muito tempo conversando e bebendo. Já estávamos tão íntimos, eu estava tão bêbado que mal conseguia me mover direito, ele se ofereceu para me levar de carro na minha casa, aceitei sem nem pensar.
Chegamos rápido ao que eu pensava ser minha casa, só reparei que eu não estava na minha rua, ao descer do carro, ele me ofereceu o ombro e me levou até a porta.
- Não precisa ter medo, é a minha casa.
Permaneci calado e continuei andando até a porta, ele a abriu, era uma sala enorme, a TV estava ligada, estava passando algum filme se eu não me engano, ouvi o barulho de uma geladeira fechando, ignorei. Entramos, ele fechou a porta e começou a desabotoar a camisa, fiquei meio sem entender, continuei lá, parado, sem reação alguma, apenas o observando.
- Não vai tirar sua camisa também não?
Não respondi nada. Apenas comecei a imitá-lo sem dizer nenhuma palavra como sempre. Eu já não me reconhecia mais, depois de ter entrado naquela casa, eu estava disposto a qualquer coisa que acontecesse.
Ele começou a se aproximar pouco a pouco de mim, pensei em recuar, mas logo espantei essa idéia de minha cabeça, ele se agachou e desabotoou minha calça, olhou para mim e me mostrou aquele belo sorriso, comecei a afogar seu cabelo. Ele abaixou minha calça e juntamente minha cueca, devagar, ele vê meu pau e me olha outra vez, com aquele sorriso, que eu nunca vi igual.
- Gostei do tamanho.
Não, não era ele que tinha falado isso, era outro alguém, alguém que já estava nos observando há tempo, olho para trás e vejo uma mulher semi-nua, olhando para mim com um sorriso malicioso.
- Esse já é outro Caio?
- Claro. Tenho que variar o cardápio.
Fiquei lá pasmo, imaginando milhões de coisas, que poderiam e iriam acontecer ali.
- Como é o nome dele?
- Como é o seu nome mesmo?
- Will e o dela?
- Ah, nomes não são importantes, nós não iremos utilizá-los mesmo. Não é Caio?
- Sim amor.
Ela começou a se aproximar de mim e de Caio, conforme ela andava, tirava as poucas vestes que tinha, Caio pegou em meu pau e começou a brincar com ele. Eu soltei um leve gemido. Ela riu. Tinha uns peitos firmes e médios. Aparentava ter menos de 40 anos. Caio parou com a brincadeira e levantou-se, retirou sua calça rapidamente mostrando-nos seu belo pau.
- Já tá assim amor?
- E tem como não ficar?
Nós três rimos. Ela chegou perto de mim e começou a me beijar, parou e ajustou meu pau próximo a vagina dela, que logo comeu meu pau. Comecei a sentir outras mãos me acariciando. Era Caio; ele estava atrás de mim, começou a alisar minha bunda, eu gemia com aquilo tudo, duas pessoas me querendo com tanto afinco, aquilo nunca acontecera. A mulher me beijava com fervor e calor. Comecei a sentir algo duro cutucando minha bunda.
- Delicia. – Caio sussurrou no meu ouvido.
Ele começou a forçar pouco a pouco; ela não parava com os beijos e o vai-e-vem, eu já estava perto de gozar, comecei a sentir uma dor, que aumentava aos poucos, começou a se misturar com uma espécie de prazer, eu já não sabia mais, qual dos dois eu estava sentindo ao certo, mas posso dizer que aquele momento foi maravilhoso. Gritei de dor, senti que havia entrado tudo, estávamos em um verdadeiro “trenzinho”, começamos a alternar nosso vai-e-vem, até chegarmos ao ponto certo, o ponto o qual nós dois íamos e víamos ao mesmo tempo. E assim gozamos, ele dentro de mim e eu dentro dela.
Jamais poderia esquecer esse dia em minha vida, Caio me mostrou onde ficava o banheiro, tomei uma ducha e saí dali, caminhando, procurando a esmo o rumo de casa.

Espero que gostem, conto de minha autoria ( com certas "contribuições" de Mairana ) 'uhsahusahusauh ;)

quinta-feira, setembro 09, 2010

29 de Fevereiro

E aqui vai a última parte do conto, espero que gostem.

Miller já estava enrubescida de raiva, respirou fundo, tentando acalmar toda aquela raiva. Quem era aquele garoto, que nunca vira antes na vida? Cidade pequena; era difícil ter gente nova por ali, mas bem que não era possível; como ele sabia que ela estava solteira a tanto tempo? Mas Agatha sabia que o último relacionamento, não tinha sido culpa dela, ela ao menos achava isso, afinal de contas, será que ela poderia ter culpa dele a ter traído? Balançou com força a cabeça, tentando se livrar dessa idéias.

- Você está bem? – perguntou Brian, quase que querendo abraçá-la.
- Estou, estou.

Pouco a pouco, o movimento na rua crescia, pessoas, carros, motos e bicicletas vinham e iam. Lá estavam indo os dois, andando a esmo, um ao lado do outro, volta e meia discutindo ou rindo. Parecia que Brian já a conhecia há tanto tempo, parecia até que ele sabia mais sobre ela, do que ela mesma.
As horas se passavam, conversas iam e vinham. Já não havia mais ruas para andar, os pés dos dois já doíam, as barrigas roncavam e os corpos imploravam por descanso. Nenhum dos dois queria que a mágica daquele momento, acabasse, por eles, poderiam ficar andando até a eternidade, mas a realidade é sempre mesma, aquela de sempre. Miller não sabia nem ao menos onde esse rapaz morava, de onde tinha vindo, nem a idade ele quis dizer. Ela no começo não se importou com isso, mas aos poucos começava a necessidade e a curiosidade de saber desses pequenos fatos. Preferiu não tocar outra vez no assunto. Ele a deixou em sua casa e despediu, marcaram-se de se verem a noite, em uma praça próxima do centro da cidade.
Quando chegou sua mãe já estava praticamente desesperada, já havia pensado até em ligar para policia, afinal de contas, a sua filha havia saído às 8 horas da manhã. Agatha mal ouviu as reclamações e sermões da mãe, simplesmente subiu para o quarto, pensando, pensando nessas horas que tinha acabado de viver, havia tanta beleza e mistério naquele garoto.
Começou as suas dúvidas, se perguntou se o seu nome era aquele mesmo, se ele era mesmo tudo aquilo que tinha falado. Olhava para o relógio a cada estante, a hora não se passava e as dúvidas só cresciam e cresciam. Ouviu os gritos da mãe chamando-a para jantar, comeu o tão lento quanto pode, tentando assim de algum modo passar o seu tempo. Não havia muito que se fazer naquela cidade. Decidiu não ficar em casa, visitou uns amigos, comprou umas coisas no supermercado e logo após tentou dormir, sono que só demorou a chegar.
Agatha olhou para os dois lados e viu que já era noite, banhou-se, comeu e saiu, cantarolando pelas ruas, ao encontro do seu amado. Ele já estava lá na praça a esperando, com uma linda rosa branca, ela o viu e correu, ele levantou e abriu os braços de encontro a ela, foi um abraço demorado, sincero, carinhoso. Ela já amava o sorriso dele, já amava o modo que ele falava com ela, já amava seu jeito de ser, seu jeito de pensar, os poemas que recitara para ela. Passaram a noite naquela praça, não tão cheia, nem tão vazia. Conversando, beijando, namoricando.
As horas se passaram rapidamente; aqueles que passavam, ficavam surpresos por Miller ter arranjado um namorado, uma menina tão fechada, que só espantava os rapazes, agora estava com um aos amassos, muitos ficaram até sem entender, olhavam até sem nenhuma sutileza só para ter a certeza que era ela mesma.
E chegou a hora do conto de fada acabar, Agatha percebeu que Brian estava chorando.

- O que foi Brian?
- Me desculpe, não sou nada disso que você pensava. Na verdade, amanhã nem estarei aqui mais! Não sou daqui, me desculpe.
- Mas Brian, não se importe com a distancia, damos um jeito.
- Entenda, não há como dá um jeito nessa distância. Ela é maior do que você imagina.
- Como assim Brian? Não estou ti entendendo.
- Me desculpe, já está tarde demais.
- Calma! Explique-me, por favor!
Os olhos de Agatha começaram a lacrimejar ao dizer isso, ela estava confusa, sentindo já um vazio, antes mesmo de Brian ir.
- Você jamais entenderá, nem eu mesmo entendo o porque disso. Daqui a 4 anos estarei aqui outra vez...
- Daqui a 4 anos? Por que?
- Não sei explicar o certo, minha vida é assim, só estou aqui no dia do meu aniversário. Desculpe-me. Adeus.


E assim ele se foi, correndo na escuridão das ruas. Agatha não olhou em nenhum momento para que lado ele foi, enxugou as lágrimas do rosto e voltou, voltou para sua casa, voltou para seu lar, para sonhar outra vez, com seu príncipe encantado.

Comentem ae ;)

quarta-feira, setembro 08, 2010

O Poeta - Luís Fernando Veríssimo

Disse o homem:
— Teus cabelos são como trigais ao vento, tanta beleza eu não agüento.
A mulher sorriu. Era a primeira vez que iam para a cama. Ela não sabia
que ele fazia versos. Ainda mais numa situação daquelas. Ele continuou:
— Tua fronte, amada, tem o frescor da madrugada. Teus olhos límpidos
e sensuais são como tépidos mananciais. Esses lábios lindos de que és dona,
como pétalas de anemona...
Ela hesitou, depois disse:
— Acho que é anêmona.
— Como é?
— Não é anemona, é anêmona.
— Tem certeza?
— Não tem importância. Continua.
— Espera. O que é que rima com anêmona?
— Deixa pra lá.
Mas ele tinha sentado na cama e agora, em vez de acariciá-la, espremia
a própria cabeça.
— Anêmona, anêmona...
— Sêmola.
— Hein?
— Sêmola rima com anêmona.
— Pois é... — hesitou ele.
Era um desafio. Ele levantou-se da cama e deu algumas voltas, nu, pelo
quarto.
— Sêmola, sêmola...
De repente estalou os dedos. Tinha encontrado. Voltou rapidamente para
a cama e retomou a mulher nos braços.
— Onde nós estávamos?
— Na boca.
— Tua boca tem gosto de sêmola, teus lábios são pétalas de anêmona.
— Você é um poeta mesmo.
— Todo o teu rosto tão raro do nosso amor é o labaro.
— Não é...
Ele parou e afastou-se.
— Não é o quê?
— Nada, não. Continua, continua — disse ela, puxando-o de volta.

segunda-feira, setembro 06, 2010

Medo e Obsessão

Fui no embalo de Linderson e resolvi fazer um conto e postar aqui, espero que gostem ;D


Medo e Obsessão

Eu sempre soube que ele me observava, ele não fazia a mínima questão de se esconder ou ser discreto, eu o via na janela de sua casa olhando para mim ou na sala de aula me encarando. Ele era um garoto estranho, que eu evitava falar, fingia que não o via e achava que isso seria o melhor para mim. Ou não. Pois mesmo eu não o olhando e tentando evitá-lo ao máximo, ele sempre estava olhando para mim. E não sabia ao menos disfarçar tal obsessão. Isso me deixava assustada. Eu tinha pânico só em imaginar voltar sozinha para casa, com aquele garoto me perseguindo, a minha sorte era Caren, uma menina do colégio. Ela morava perto da minha casa e sempre vinha comigo. Mas ela morava um pouco antes e eu tinha que andar sozinha até chegar a minha casa. Era com certeza a coisa mais aterrorizante e eu passava por essa tensão todo dia. Aterrorizante porque eu percebia os olhos daquele garoto sobre mim, e eram olhos furiosos. Dan era o seu nome, e só de falar já fico arrepiada, pois me lembro do pior dia da minha vida. O dia em que ele resolveu que eu seria sua.

Antes que eu esqueça, o meu nome era Elizabeth. E eu estava longe de ser a garota linda e popular do colégio. Mas tinha amigos, tirava boas notas e era feliz com a vida que eu tinha. Até o dia em que o Dan, fez algo que mudou tudo.

Eu não entendia a obsessão dele por mim, eu não era muito atraente e não posso dizer que tinha muitos pretendentes, pois não tinha.

Estava tudo normal, até que um dia eu recebi uma notícia da Caren, que me deixou muito abalada, ela iria morar em outra cidade. As palavras dela gritavam em minha cabeça; ‘Elizabeth, eu vou me mudar’. As palavras que mudaram completamente a minha vida. Um mês depois, Caren foi embora e eu fiquei em estado de pânico, eu teria que voltar sozinha a partir daquele dia, quer dizer, quase sozinha, pois ele sempre estava comigo.

O tempo passou muito rápido e logo chegou o dia em que eu teria que voltar sozinha para minha casa. Sem a Caren, eu estava paranóica, passei todo o tempo que estava na escola, olhando para os lados, procurando o Dan, sempre que o achava ele estava me olhando. E isso me deixava ainda mais apreensiva, não consegui aprender nada naquele dia, estava totalmente fora de mim. E tudo piorou ainda mais, quando na hora do intervalo ele se aproximou de mim e pela primeira vez, falou comigo:

- Oi, Elizabeth. Posso me sentar ao seu lado? – ele me olhava de um jeito tão assustador que fiquei com medo de recusar.

- Oi. Pode sim. – eu estava trêmula, mãos geladas e pedindo socorro por dentro.

Ele sentou-se ao meu lado e ficou me encarando por um longo tempo, sem nada dizer. Ele definitivamente me assustava, eu estava paralisada ao seu lado. Não agüentando mais decidi sair dali. E para não ser totalmente grosseira lhe disse:

- Dan, eu vou para a minha sala. Até mais. – no mesmo momento me arrependi desse ‘até mais’. Era muito melhor eu apenas ter dito “até nunca mais”. Essa era a minha vontade.

- Ah, ta certo. Eu vou junto com você então. A gente é da mesma sala mesmo né? – ao falar isso, ele pegou a minha mão, beijou-a e depois ficou segurando-a. Eu estava a ponto de sair correndo e gritando daquele lugar. Mas apenas consegui dizer.

- É.

Segui todo o caminho até a sala em silêncio, com ele ao meu lado, como sempre me olhando. Ele não percebia o quanto isso me deixava assustada, ou talvez percebesse e não se importasse com isso. Hoje, depois de tudo o que aconteceu, eu acho que tudo o que ele queria era realmente me assustar. Ao entrar na sala, fui direto ao meu lugar e me sentei sem notar a presença daquele garoto, ainda ao meu lado e me olhando como nunca. Dei um sorriso meio sem graça e tentei fazer outra coisa, abri meu caderno e comecei a rabiscar. Não adiantou muito, pois ele continuava ao meu lado, me olhando. Então, mais uma vez ele falou comigo:

- Eu notei que você está indo sozinha para sua casa. Deve ser chato não ter com quem conversar... – rezei para ele não se oferecer a vir comigo, e antes que ele terminasse de falar, fui logo dizendo.

- Não, eu gosto mais de andar sozinha. Eu tenho mais tempo para pensar. – disse isso com a voz um pouco desesperada. E ele notou isso.

- Mas, você poderia vir comigo, eu sempre saio na mesma hora que você e como moramos perto um do outro, eu pensei que talvez... – o interrompi novamente.

- Não é necessário, eu gosto de andar sozinha. E além do mais, eu seria uma chata todo o caminho. Você iria enjoar de mim.

Ele ficou calado por um momento e para meu alívio, o professor entrou na sala e mandou que todos se sentassem em seus lugares. Ele foi para seu lugar e eu não fui nem um pouco discreta em mostrar meu alívio sobre aquela situação.

Chegou a hora de ir embora. Voltei a ficar aterrorizada com a idéia de voltar para casa com ele. Peguei as minhas coisas e sai correndo da escola. Fui por um caminho diferente e mesmo assim percebi que alguém estava me seguindo. Olhei para trás e o vi. Andei ainda mais rápido para ele não conseguir me alcançar, esforço que logo percebi ser em vão. Ele parecia gostar daquele meu desespero, sua expressão não negava isso. Ele tinha um rosto de quem estava animado e eu de quem estava morrendo de medo. Ao ver a minha casa, comecei a correr ainda mais e quando cheguei, abri a porta e cai no chão, exausta. Depois desse dia, ele parou de falar comigo na escola, mas não parou de me olhar, pelo contrário, seus olhares me assustavam ainda mais. Eu ainda o via pela janela do meu quarto, parado, me encarando.

Passaram-se vários dias, até que chegou a semana do meu aniversário. Como era de se esperar, ganhei poucos presentes e apenas algumas pessoas na escola lembraram-se da data. Nesse dia para o meu espanto, Dan não apareceu na escola. Isso me deixou aliviada e ao mesmo tempo apreensiva. Eu sentia que isso não era um bom sinal. Ao terminarem as aulas, voltei para casa como de costume, sempre olhando para os lados, com medo de Dan estar me seguindo. Para minha felicidade, ele não estava em parte alguma. Felicidade esta que não durou por muito tempo, pois um pouco antes de chegar na minha casa, eu o vi. Ele tinha um sorriso diabólico em seu rosto e quando percebeu que eu ia correr dele, veio ao meu encontro. Eu fiquei sem ação. E ele falou:

- Oi, Elizabeth. Sei que hoje é o seu aniversário. Não fui à escola porque estava preparando uma surpresa para você. – ele parecia estar apreensivo ao falar isso, pois não parava de olhar para os lados. E isso me deixava muito mais assustada. Então eu disse:

- Ah, não precisava de nenhuma surpresa, eu estou um pouco apressada para chegar em casa, depois a gente se vê.

Nesse momento, foi como se ele virasse outra pessoa, me segurou pelo braço e praticamente gritou comigo:

- Você tem que vir comigo agora, eu fiz uma surpresa e você tem que vir.

Eu estava em estado de choque, ele me segurou com mais força e foi me puxando até o quintal de sua casa. Era um lugar imundo, cheio de coisas velhas, mal dava para ver a minha casa agora. Eu tentava gritar e fugir dali, mas ele tapou a minha boca, como se já imaginasse que eu faria isso. Quando chegamos em frente a uma arvore, ele me soltou e ficou olhando para mim, do mesmo jeito de antes, com olhos assustadores. Eu pensei em correr, sair dali, mas eu estava tão assustada que não conseguia sequer sair do canto. Ele então pegou um objeto que estava perto a uma árvore e me entregou. De inicio eu não entendi do que se tratava, mas logo vi que era um porta retrato, nele tinha uma montagem de fotos minhas que ele tirou enquanto eu não estava vendo, eu fiquei apavorada ao ver que tinha fotos até em momentos íntimos, como ele poderia ter tirado essas fotos? Eu o olhei e perguntei:

- Onde? ... Como? ... Como você tirou essas fotos? ... Você é... – eu estava sem palavras, diante essa situação. Ele me olhou com sarcasmo e disse:

- Eu não ficava só te olhando na escola ou pela janela do meu quarto. Eu te segui e te admirei em todos os momentos do seu dia. Até quando você dormia. E você nunca me notou.

Eu estava sem palavras diante disso, lágrimas se formaram em meu rosto. Então, eu joguei o porta retrato no chão, que ao cair quebrou-se em pedaços. Isso o deixou furioso, eu via isso em seus olhos. Então comecei a correr desesperada, mal dava pra ver o caminho, meus olhos cheios de lágrimas impediam que eu visse tudo com clareza. Quando eu senti as mãos dele me segurando mais uma vez, ele me pegou e me puxou. Eu tentava lutar contra ele, me soltar daquele menino estranho e maluco. Mas ele estava fora de si e não me soltava. Ele então gritou:

- Você será minha, por bem ou por mal. E não adianta tentar fugir. Você é minha.

E isso foi a última coisa que eu ouvi, enquanto viva. Eu não lembro o que aconteceu, mas momentos depois eu me vi caída nos braços daquele menino. Eu não estava lá, eu estava fora dali, vendo tudo de longe, como se aquele corpo caído não fosse meu. Só depois eu entendi que eu havia morrido. Eu só consegui ver aquele menino chorando sobre meu corpo e depois mais nada. Passei muito tempo sem ver nada, apenas o branco, até chegar onde estou hoje. Meu novo lar, acho que chamam de paraíso. Sim, deve ser o paraíso, aqui é lindo. E eu sou feliz aqui.



Texto : Mairana M.

29 de Fevereiro

Aí vai a primeira parte de um conto da minha autoria, aceitando sugestões e críticas.

Era dia 29 de Fevereiro e lá estava ela andando, por ruas que nunca tinha andado, conhecendo a sua cidade; camisa regata e short curto; era assim que saía para seus passeios semanais, aventurando-se pela cidade, em que nascera, vivera e que descobrira que não conhecia praticamente nada dela. Andava como qualquer uma pelas ruas, sem chamar a atenção de ninguém e se chamasse , era de um ou dois garotos, que simplesmente assobiavam ou a olhavam, com olhos de cachorros famintos. Ela simplesmente os olhava com desdém e seguia seu caminho. Um rapaz bonito, de aparentemente 20 anos, começou a acompanhá-la, Agatha ficou receosa, nunca aconteceu de um rapaz acompanhá-la.

- Oi. Eu sei o que você está pensando, não vou fazer mal nenhum a ti não.
- Como?
- Ah, fala sério, eu sei que você estava com medo de mim.
- Não, não. Só não é normal, um garoto me seguir assim.
- Garoto? E quem disse que eu estou ti seguindo?
- Desculpe-me então, pelo menos é o que parece.
- Sinto muito, mas a rua é pública, eu não tenho culpa se você é paranóica.

Agatha corou ao termino da frase, parecia que iria explodir. Afinal de contas, quem era aquele garoto, para desaforá-la daquele modo? Esse pensamento ia e vinha. Os passos dela aceleraram e logo depois vieram os deles, quem reparasse, poderia até dizer que estavam disputando uma espécie de “corrida”.

- Está correndo de mim linda?
- Claro que não, só está ficando tarde.
- Sei. Ainda é dia e já está ficando tarde?
- Você não tem mais o que fazer não?
-Se eu tivesse, não estaria aqui, esperando você me dizer seu nome.
- Agatha Miller. Tá feliz?
- Ainda não. Estou muito longe disso. Prazer, sou Brian Connoly.
- Prazer.
- Para onde estamos indo?
- Estamos?
- Claro! Formamos um belo casal, não acha?
- Belo casal? Com você no meio? Está sonhando?!
- Se eu tiver sonhando, eu nem quero acordar então.
- A tá! Usa essas cantadas baratas com todas?
- Baratas? Me diz aí, quantos já ti cantaram assim!

Agatha ficou sem voz, sem saber ao certo o que responder mentir ou ser sincera? Escolheu a de sempre.

- Já foram tantos, perdi até a conta.
- A ta! Estou precisando atualizar minhas cantadas então. Mas, para cantadas “baratas”, ti deixei até sem voz.
- Me deixa em paz cara!
- Está bem, está bem gata. Desculpe-me. – disse Brian em um puro tom de sarcasmo. – Eu só achei que uma moça, tão linda assim, não deveria ficar andando, tão solitária, pelos lugares.
- Se eu estou “solitária” ou não, não lhe interessa.
- Por isso está solteira a tanto tempo. Tão ignorante assim!
- E quem é você pra me chamar de ignorante?

Depois posto outra parte dele. Espero que tenham gostado :D

domingo, setembro 05, 2010

Martha Medeiros




Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve pra montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças. Aquela noite que você não conseguiu parar de chorar, aquele dia que você ficou caminhando sem saber para onde ir, aquele beijo cinematográfico que você recebeu, aquela visita surpresa que ela lhe fez, o parto do seu filho, a bronca do seu pai, a demissão injusta, o acidente que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos pouquinhos, formando quem você é. Não há nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Como são muitas, você pode esquecer de algumas, e a isso chamamos de "passou". Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas quando você menos esperar, ela será necessária para você completar o jogo e se enxergar por inteiro.

sábado, setembro 04, 2010

Aquilo - Luís Fernando Veríssimo

— De uns tempos para cá, eu só penso naquilo.
— Eu penso naquilo desde os meus, sei lá, 11 anos.
— Onze anos?
— E. E o tempo todo.
— Não. Eu, antigamente, pensava pouco naquilo. Era uma coisa que não
me preocupava. Claro que a gente convivia com aquilo desde cedo. Via
acontecer à nossa volta, não podia ignorar. Mas não era, assim, uma
preocupação constante. Como agora.
— Pra mim sempre foi. Aliás, eu não penso em outra coisa.
— Desde criança?!
— De dia e de noite.
— E como é que você conseguia viver com isso, desde criança?
— Mas é uma coisa natural. Acho que todo mundo é assim. Você é que
é anormal, se só começou a pensar naquilo nessa idade.
— Antes eu pensava, mas hoje é uma obsessão. Fico imaginando como
será. O que eu vou sentir. Como será o depois.
— Você se preocupa demais. Precisa relaxar. A coisa tem que acontecer
naturalmente. Se você fica ansioso é pior. Aí sim, aquilo se torna uma angústia,
em vez de um prazer.
— Um prazer? Aquilo?
— Pra você não sei. Pra mim, é o maior prazer que um homem pode ter.
É quando o homem chega ao paraíso.
— Bom, se você acredita nisso, então pode pensar naquilo como um
prazer. Pra mim é o fim.
— Você precisa de ajuda, rapaz.
— Ajuda religiosa? Perdi a fé há muito tempo. Da última vez que falei
com um padre a respeito, só o que ele me disse foi que eu devia rezar. Rezar
muito, para poder enfrentar aquilo sem medo.
— Mas você foi procurar logo um padre? Precisa de ajuda psiquiátrica.
Talvez clínica, não sei. Ter pavor daquilo não é saudável.
— E eu não sei? Eu queria ser como você. Viver com a perspectiva
daquilo naturalmente, até alegremente. Ir para aquilo assoviando.
— Ah, vou. Assoviando e dando pulinho. Olhe, já sei o que eu vou fazer.
Vou apresentar você a uma amiga minha. Ela vai tirar todo o seu medo.
— Sei. Uma dessas transcendentalistas.
— Não, é daqui mesmo. Codinome Neca. Com ela é tiro e queda.
Figurativamente falando, claro.
— Hein?
— O quê?
— Do que é que nós estamos falando?
— Do que é que você está falando?
— Daquilo. Da morte.
— Ah.
— E você?
— Esquece.

sexta-feira, setembro 03, 2010

Tati Bernardi



"Que você acredite que não me deve nada simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívida, nem mágoa, nem arrependimento. Então, que não se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo o que vivemos. Que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida."

quinta-feira, setembro 02, 2010

A cama - Lygia Bojunga





No livro "A cama", Lygia Bojunga cria uma extensa galeria de personagens, cujas vidas se entrelaçam na disputa de uma inusitada cama - único bem material que restou a uma família outrora abastada e que agora, desencadeando conflitos ora cômicos, ora dramáticos ganha no livro o status de personagem principal.
Abrir o livro nos convida a decifrar os mistérios dessa cama, o poder que ela tem sobre os personagens, em vários momentos, como: A cama na lembrança, a cama no antiquário, a cama no morro. Todos queriam essa cama, até perceberem que ela tinha personalidade própria...
O livro "A cama", é o tipo de livro que o faz viajar na história junto com os personagens e tem uma linguagem de fácil entendimento. Confesso que o li em dois dias apenas, é uma leitura muito contagiante, você é levado pela história e assim mal percebe o tempo passar, quando vê já tem lido boa parte do livro. Um livro ótimo.


By : Mairana ;D