Fui no embalo de Linderson e resolvi fazer um conto e postar aqui, espero que gostem ;D
Medo e Obsessão
Eu sempre soube que ele me observava, ele não fazia a mínima questão de se esconder ou ser discreto, eu o via na janela de sua casa olhando para mim ou na sala de aula me encarando. Ele era um garoto estranho, que eu evitava falar, fingia que não o via e achava que isso seria o melhor para mim. Ou não. Pois mesmo eu não o olhando e tentando evitá-lo ao máximo, ele sempre estava olhando para mim. E não sabia ao menos disfarçar tal obsessão. Isso me deixava assustada. Eu tinha pânico só em imaginar voltar sozinha para casa, com aquele garoto me perseguindo, a minha sorte era Caren, uma menina do colégio. Ela morava perto da minha casa e sempre vinha comigo. Mas ela morava um pouco antes e eu tinha que andar sozinha até chegar a minha casa. Era com certeza a coisa mais aterrorizante e eu passava por essa tensão todo dia. Aterrorizante porque eu percebia os olhos daquele garoto sobre mim, e eram olhos furiosos. Dan era o seu nome, e só de falar já fico arrepiada, pois me lembro do pior dia da minha vida. O dia em que ele resolveu que eu seria sua.
Antes que eu esqueça, o meu nome era Elizabeth. E eu estava longe de ser a garota linda e popular do colégio. Mas tinha amigos, tirava boas notas e era feliz com a vida que eu tinha. Até o dia em que o Dan, fez algo que mudou tudo.
Eu não entendia a obsessão dele por mim, eu não era muito atraente e não posso dizer que tinha muitos pretendentes, pois não tinha.
Estava tudo normal, até que um dia eu recebi uma notícia da Caren, que me deixou muito abalada, ela iria morar em outra cidade. As palavras dela gritavam em minha cabeça; ‘Elizabeth, eu vou me mudar’. As palavras que mudaram completamente a minha vida. Um mês depois, Caren foi embora e eu fiquei em estado de pânico, eu teria que voltar sozinha a partir daquele dia, quer dizer, quase sozinha, pois ele sempre estava comigo.
O tempo passou muito rápido e logo chegou o dia em que eu teria que voltar sozinha para minha casa. Sem a Caren, eu estava paranóica, passei todo o tempo que estava na escola, olhando para os lados, procurando o Dan, sempre que o achava ele estava me olhando. E isso me deixava ainda mais apreensiva, não consegui aprender nada naquele dia, estava totalmente fora de mim. E tudo piorou ainda mais, quando na hora do intervalo ele se aproximou de mim e pela primeira vez, falou comigo:
- Oi, Elizabeth. Posso me sentar ao seu lado? – ele me olhava de um jeito tão assustador que fiquei com medo de recusar.
- Oi. Pode sim. – eu estava trêmula, mãos geladas e pedindo socorro por dentro.
Ele sentou-se ao meu lado e ficou me encarando por um longo tempo, sem nada dizer. Ele definitivamente me assustava, eu estava paralisada ao seu lado. Não agüentando mais decidi sair dali. E para não ser totalmente grosseira lhe disse:
- Dan, eu vou para a minha sala. Até mais. – no mesmo momento me arrependi desse ‘até mais’. Era muito melhor eu apenas ter dito “até nunca mais”. Essa era a minha vontade.
- Ah, ta certo. Eu vou junto com você então. A gente é da mesma sala mesmo né? – ao falar isso, ele pegou a minha mão, beijou-a e depois ficou segurando-a. Eu estava a ponto de sair correndo e gritando daquele lugar. Mas apenas consegui dizer.
- É.
Segui todo o caminho até a sala em silêncio, com ele ao meu lado, como sempre me olhando. Ele não percebia o quanto isso me deixava assustada, ou talvez percebesse e não se importasse com isso. Hoje, depois de tudo o que aconteceu, eu acho que tudo o que ele queria era realmente me assustar. Ao entrar na sala, fui direto ao meu lugar e me sentei sem notar a presença daquele garoto, ainda ao meu lado e me olhando como nunca. Dei um sorriso meio sem graça e tentei fazer outra coisa, abri meu caderno e comecei a rabiscar. Não adiantou muito, pois ele continuava ao meu lado, me olhando. Então, mais uma vez ele falou comigo:
- Eu notei que você está indo sozinha para sua casa. Deve ser chato não ter com quem conversar... – rezei para ele não se oferecer a vir comigo, e antes que ele terminasse de falar, fui logo dizendo.
- Não, eu gosto mais de andar sozinha. Eu tenho mais tempo para pensar. – disse isso com a voz um pouco desesperada. E ele notou isso.
- Mas, você poderia vir comigo, eu sempre saio na mesma hora que você e como moramos perto um do outro, eu pensei que talvez... – o interrompi novamente.
- Não é necessário, eu gosto de andar sozinha. E além do mais, eu seria uma chata todo o caminho. Você iria enjoar de mim.
Ele ficou calado por um momento e para meu alívio, o professor entrou na sala e mandou que todos se sentassem em seus lugares. Ele foi para seu lugar e eu não fui nem um pouco discreta em mostrar meu alívio sobre aquela situação.
Chegou a hora de ir embora. Voltei a ficar aterrorizada com a idéia de voltar para casa com ele. Peguei as minhas coisas e sai correndo da escola. Fui por um caminho diferente e mesmo assim percebi que alguém estava me seguindo. Olhei para trás e o vi. Andei ainda mais rápido para ele não conseguir me alcançar, esforço que logo percebi ser em vão. Ele parecia gostar daquele meu desespero, sua expressão não negava isso. Ele tinha um rosto de quem estava animado e eu de quem estava morrendo de medo. Ao ver a minha casa, comecei a correr ainda mais e quando cheguei, abri a porta e cai no chão, exausta. Depois desse dia, ele parou de falar comigo na escola, mas não parou de me olhar, pelo contrário, seus olhares me assustavam ainda mais. Eu ainda o via pela janela do meu quarto, parado, me encarando.
Passaram-se vários dias, até que chegou a semana do meu aniversário. Como era de se esperar, ganhei poucos presentes e apenas algumas pessoas na escola lembraram-se da data. Nesse dia para o meu espanto, Dan não apareceu na escola. Isso me deixou aliviada e ao mesmo tempo apreensiva. Eu sentia que isso não era um bom sinal. Ao terminarem as aulas, voltei para casa como de costume, sempre olhando para os lados, com medo de Dan estar me seguindo. Para minha felicidade, ele não estava em parte alguma. Felicidade esta que não durou por muito tempo, pois um pouco antes de chegar na minha casa, eu o vi. Ele tinha um sorriso diabólico em seu rosto e quando percebeu que eu ia correr dele, veio ao meu encontro. Eu fiquei sem ação. E ele falou:
- Oi, Elizabeth. Sei que hoje é o seu aniversário. Não fui à escola porque estava preparando uma surpresa para você. – ele parecia estar apreensivo ao falar isso, pois não parava de olhar para os lados. E isso me deixava muito mais assustada. Então eu disse:
- Ah, não precisava de nenhuma surpresa, eu estou um pouco apressada para chegar em casa, depois a gente se vê.
Nesse momento, foi como se ele virasse outra pessoa, me segurou pelo braço e praticamente gritou comigo:
- Você tem que vir comigo agora, eu fiz uma surpresa e você tem que vir.
Eu estava em estado de choque, ele me segurou com mais força e foi me puxando até o quintal de sua casa. Era um lugar imundo, cheio de coisas velhas, mal dava para ver a minha casa agora. Eu tentava gritar e fugir dali, mas ele tapou a minha boca, como se já imaginasse que eu faria isso. Quando chegamos em frente a uma arvore, ele me soltou e ficou olhando para mim, do mesmo jeito de antes, com olhos assustadores. Eu pensei em correr, sair dali, mas eu estava tão assustada que não conseguia sequer sair do canto. Ele então pegou um objeto que estava perto a uma árvore e me entregou. De inicio eu não entendi do que se tratava, mas logo vi que era um porta retrato, nele tinha uma montagem de fotos minhas que ele tirou enquanto eu não estava vendo, eu fiquei apavorada ao ver que tinha fotos até em momentos íntimos, como ele poderia ter tirado essas fotos? Eu o olhei e perguntei:
- Onde? ... Como? ... Como você tirou essas fotos? ... Você é... – eu estava sem palavras, diante essa situação. Ele me olhou com sarcasmo e disse:
- Eu não ficava só te olhando na escola ou pela janela do meu quarto. Eu te segui e te admirei em todos os momentos do seu dia. Até quando você dormia. E você nunca me notou.
Eu estava sem palavras diante disso, lágrimas se formaram em meu rosto. Então, eu joguei o porta retrato no chão, que ao cair quebrou-se em pedaços. Isso o deixou furioso, eu via isso em seus olhos. Então comecei a correr desesperada, mal dava pra ver o caminho, meus olhos cheios de lágrimas impediam que eu visse tudo com clareza. Quando eu senti as mãos dele me segurando mais uma vez, ele me pegou e me puxou. Eu tentava lutar contra ele, me soltar daquele menino estranho e maluco. Mas ele estava fora de si e não me soltava. Ele então gritou:
- Você será minha, por bem ou por mal. E não adianta tentar fugir. Você é minha.
E isso foi a última coisa que eu ouvi, enquanto viva. Eu não lembro o que aconteceu, mas momentos depois eu me vi caída nos braços daquele menino. Eu não estava lá, eu estava fora dali, vendo tudo de longe, como se aquele corpo caído não fosse meu. Só depois eu entendi que eu havia morrido. Eu só consegui ver aquele menino chorando sobre meu corpo e depois mais nada. Passei muito tempo sem ver nada, apenas o branco, até chegar onde estou hoje. Meu novo lar, acho que chamam de paraíso. Sim, deve ser o paraíso, aqui é lindo. E eu sou feliz aqui.
Texto : Mairana M.