sábado, outubro 30, 2010

Presságio de uma morte


Mais um dia normal na escola, ou talvez não. Os alunos começavam a chegar e ao verem uma multidão ao redor de algo, ficavam curiosos e iam até lá ver do que se tratava. Ao chegarem o seu choque era evidente, eles não falavam nada. Estavam assustados, atordoados e com o estomago embrulhado com aquela cena. Ninguém sabia o que fazer diante daquilo. Até que eu, enfim, cedi a minha curiosidade e fui ver do que se tratava. Ao chegar ao local, fiquei atordoada como todos que estavam lá. Eu vi o desespero nos olhos daquele menino caído no chão sobre uma garota. Ela estava ensanguentada, ele com a arma do crime em mãos, uma faca. Mas ele não demonstrava sentir ódio daquela menina que havia assassinado, ele chorava arrependido do que tinha feito.

Passado esse momento de choque, todos os alunos começaram a realmente entender o que tinha acontecido ali. E sentiram medo daquele menino, todos recuavam apressadamente, menos eu. Eu sabia o que havia acontecido, aquele menino havia matado uma garota, mas eu não tinha medo dele. Eu sentia compaixão. À medida que os outros alunos se distanciavam do local, eu me sentia mais presa aquele garoto. Então me aproximei dele, sem medo, sem raiva. E ele me abraçou, nenhuma palavra foi dita, ele me apertava junto ao seu corpo. E pela primeira vez aquele menino chorou. Eu sabia que nada mudaria aquela situação, então tentei confortá-lo ao máximo. E no silêncio daquele momento notei olhares curiosos, acusadores e até mesmo assustados com a possibilidade daquele menino tentar algo contra mim.

Algum tempo depois, eu estava de frente à menina morta e seu assassino. A policia chegou e o chamou para que os acompanhasse, eu vi o medo nos olhos daquele menino. Então, resolvi acompanhá-lo.

Ao chegarmos à delegacia, a tensão daquele menino só aumentava. Os policiais o olhavam com desprezo e consequentemente me encaravam por eu estar ali, ao lado de um assassino. Então, pela primeira vez ele falou comigo.

- Por que você veio? Eu matei uma menina e você ainda vem comigo pra delegacia?

- Eu não sei porque vim, simplesmente achei que era o certo a fazer. – respondi da forma mais sincera.

- Não, não era o certo. Você viu, eu sou um assassino. Embora não lembre, eu matei aquela menina. - ele parecia agitado.

- Como assim não se lembra? Você a matou, certo? – eu estava confusa.

- Acho que sim, não sei. Quando eu vi já estava com uma faca ensanguentada nas mãos .

- Eu não consigo entender. Como você não sabe que a matou? – eu o questionei.

- Eu já disse que não sei, tem algo errado comigo. E você não deveria estar aqui. É melhor você ir embora, enquanto é tempo.

- Eu não vou embora. Eu quero te ajudar. Eu senti isso desde que o vi sobre o corpo daquela garota.

- Vocês nunca aprendem não é? Aquela garota também quis me ajudar. E veja o que lhe aconteceu. – ele havia mudado repentinamente, agora estava diabólico.

- O que você disse? Você se lembra do que fez? – eu estava apavorada.

- Como eu iria esquecer? Uma menina tão linda e tão boba. Bem parecida com você.

- Mas... você me disse que não lembrava de nada. Por que agora me diz isso?

- Ora, ora, ora. Você que escolheu por isso. Você não quer me ajudar?

- Não, agora eu quero ir embora. Você está louco.

Eu me levantei para ir embora, mas ele foi mais rápido e segurou-me, tapando a minha boca para que ninguém ouvisse meus gritos. Mas ninguém apareceria, eu sabia disso. Eu estava em pânico. E ele sorria de prazer.

- Você deveria ser mais esperta. Pena que não terá oportunidade para mudar. Você sabe o que farei agora? - ele sentia prazer com o meu sofrimento.

Eu estava assustada. Ele me apertava com mais força. Dizia-me algumas coisas sem sentido. Palavras que eu não entendia, como se fossem outra língua. Ele estava eufórico, louco, diabólico.

- Você irá sentir muita dor no começo. Mas logo passará e depois você não sentirá mais nada. Você irá fazer companhia a todas as outras garotas que assim como você, tentaram me ajudar. Ninguém pode me ajudar, nem me deter. Eu sempre irei vagar pela Terra, derramando o sangue das mais belas criaturas e arrancando seus corações bondosos. E nada me alegra mais do que isso. Dorme bem, bobinha.

Ele apertou a faca contra o meu peito e vagarosamente cravou-a em mim. Eu urrei de dor, mas de alguma forma ninguém me ouviria. Ele me esfaqueou de várias formas, até que não senti mais nada. E tudo se tornou escuridão.

Eu sentia alguém me puxar, mas eu não conseguia ver quem era. Estava com medo que fosse aquele garoto. Mas essa mão me puxava com mais força. Sacudia-me. E quando eu consegui abrir os olhos, percebi que tudo aquilo havia sido um sonho. Minha mãe estava tentando me acordar, eu estava atrasada para a escola. Troquei de roupa e fui direto para o colégio. Ao chegar vi uma aglomeração de alunos ao redor de algo, fiquei curiosa e um pouco receosa. Resolvi ver do que se tratava, e ao chegar ao local. Meu pavor era evidente. No chão, estava um menino com uma faca em mãos e um corpo ensanguentado ao seu lado. O menino me encarava. Eu gritei de pavor e sai imediatamente daquele lugar.

Texto: Mairana M.


quarta-feira, outubro 27, 2010

Nada ficou


E de tudo, só restou o vazio. Ela não sentia nada por ele. Nenhum sentimento bom, como costumava ser, antes daquele dia. Nenhum sentimento ruim. Ela queria sentir raiva, rancor, desprezo. Mas simplesmente só conseguia ignorá-lo. Ele tornou-se o vazio, o nada. A sua presença não seria notada. Ela não sentiria saudades dos velhos tempos. Muito menos, o desejo de saber como tudo seria. Ela perdeu a vontade de vê-lo, abraçá-lo ou qualquer outra vontade relacionada a ele. Ela esqueceu. Assim como sempre fez. Ela sempre esquece os que nada significaram. Ou que até significaram algo, mas que acabaram por matar qualquer laço, qualquer sentimento. Todos os outros tornaram-se o nada absoluto para ela. E ela como sempre faz depois de um tombo, ergueu-se, arrumou novamente a sua roupa, ajeitou seus cabelos, tornou-se apresentável novamente e continuou a sua caminhada, como se nada tivesse acontecido. Ela supera, com a mesma facilidade e rapidez de sempre. E sempre volta mais bela e mais forte que antes.


Texto: Mairana M.

Diário de um apaixonado

Sozinho, o apaixonado tem a caligrafia da tristreza.
Aproveita a neblina para deixar recados nas vidraças.
Redige o alfabeto emendado, não suporta as letras
separadas. Pára de repente o olhar e não avança.
Observa os cachorros como anjos atrapalhados
acomodando suas asas. Comove-se com o modo que
lambem as patas, os becos das patas. Capaz de olhar
longamente os cachorros dormindo, para não aprender
nada a não ser os cachorros dormindo.

O APAIXONADO É UM
COMOVIDO À TOA.


"DIÁRIO de um APAIXONADO. Sintomas de um bem incurável"

quinta-feira, outubro 21, 2010


“Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.”

quarta-feira, outubro 20, 2010

Conto inacabado

Chovia. Havia dois homens naquele prédio, que aparentavam conversar. Tudo estava tranqüilo, até que, o homem mais velho sacou uma arma e apontou-a para o mais novo. Tudo estava acabado, ele gritava, ameaçava matar o outro homem. Ele tinha ódio, o outro apenas amor. O outro não revidava. Foi então que tudo escureceu, um som parecido com um raio naquele dia chuvoso fez com que tudo acabasse. O homem mais velho matou cruelmente o rapaz a sua frente. O que o levaria a isso? O que fez aquele homem chegar ao limite?

Direcionamos-nos ao foco de tudo, entramos em sua mente. A princípio tudo o que vemos é a escuridão, a chuva, imagens sombrias. O coração daquele homem estava tomado por sentimentos que o faziam mal e que feriam as pessoas ao seu redor, como aquele jovem que ele conhecia tão bem e tinha assassinado sem piedade. Agora vemos outras imagens em sua mente, momentos antes dele matar aquele outro homem, ele está lembrando-se de tudo o que aconteceu. Ele está conversando com o jovem, no começo não entendemos nada, ele não está concentrado, a conversa fica difusa. Mas, ele se concentra, ele quer lembrar-se de tudo e nós queremos saber o que aconteceu.



P.S : A partir daí, ninguém sabe o que aconteceu, principalmente a autora do conto.

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

sexta-feira, outubro 15, 2010

Cartas para Julieta


Ultimamente, estou péssima em tudo. Péssima para escrever, para ler, para ser simpática com as pessoas. Duvido de uma terrível TPM, é pode ser. Só estava com paciência para assistir a True Blood (seriado de vampiros), talvez porque no seriado tinha tudo o que eu estava com vontade de fazer, arrancar cabeças, maldade e extravasar a raiva (em momento algum eu disse que estava normal, portanto, não se assuste). Porém, hoje meu pai me falou de um filme que havia assistido e de acordo com ele era sem dúvidas, o melhor filme de romance que ele tinha assistido ultimamente. E ele pode falar de filmes, afinal, ele já assistiu aos filmes que temos aqui em casa, que não são poucos, na verdade, da ultima vez que fiz as contas passavam de mil filmes. Voltando ao assunto, quando meu pai falou desse filme, fiquei curiosa para assisti-lo e fiz isso esta tarde.

Cartas para Julieta, é o nome deste filme que simplesmente me enfeitiçou. Sou péssima em resumir filmes também, mas tentarei.

Sophie viaja para Verona, com o seu noivo, Victor, para uma Lua de Mel. Porém, ele está bem mais interessado em conseguir fornecedores para o seu novo restaurante do que em seu relacionamento com Sophie. Ela em um de seus passeios conhece as Secretárias de Julieta, senhoras que respondem a milhares de cartas deixadas por mulheres apaixonadas. Sem ter muita atenção do seu noivo, ela decide ajudar estas senhoras a responderem as cartas. Coincidentemente, Sophie descobre uma carta deixada há 50 anos por uma jovem apaixonada por um italiano e que perdeu a oportunidade de fugir e ficar com ele. Ela responde a carta, pois, para ela nunca é tarde quando se trata de amor. Algum tempo depois, Claire, a mulher que havia deixado a carta aparece na cidade de Verona, empolgada pela resposta deixada por Sophie. Começa então uma busca pelo verdadeiro amor. Uma segunda chance para encontrar o verdadeiro amor.

A partir daí, não vou contar o que acontece. Contar tudo perde a graça. Só digo que vale a pena assistir esse filme. Confesso, ele é bem clichê quando se trata de amor. Mas é um filme tão envolvente, tão contagiante, que até eu que não sou muito romântica me encantei. É o tipo de filme que você mal percebe o tempo passar e que quando acaba dá aquela sensação de querer mais e mais. E esse filme me fez escrever em uma semana de TPM. Sim, vale a pena assistir.



sexta-feira, outubro 08, 2010


Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos um ao outro, porque éramos tudo o que precisávamos, para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno.

Caio F.

segunda-feira, outubro 04, 2010


Há saudades que caminham comigo aconchegadas num lugar
gostoso que a memória tem. Sei que estão lá, mesmo quando
demoro um bocado de tempo para apreciar as histórias que me
contam. São porta-jóias que guardam encantos que não morrem.
Caixinhas de música, que, ao serem abertas, derramam melodias
que me fazem dançar com elas de novo. São saudades capazes de
amenizar o frio de alguns instantes com os seus braços de sol.

(Ana Jácomo)