sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Histórias que eu ouvi por aí

Tive a ideia de começar a escrever as histórias que as pessoas me contam por aí, a maioria com um desfecho triste ou trágico, ou nem tanto assim. Espero que dêem ótimos contos. Aí vai a primeira ...


PB – João Pessoa
ARL - 6633

Desci do carro mais rápido que pude; juro que pouco me faltou para beijar aquele chão. Mas isso não importava mais; só queria abraçar meu marido e chorar.
____________

                Era 05 de abril, enfim uma quarta-feira, só havia mais um dia de trabalho, e enfim minha merecida folga. Trabalho em casa de família, situada num bairro de classe média, da capital. Uma família até adorável, não recebia tão bem, mas dava para as despesas. Já trabalhei bem mais, ganhando bem menos. E ouvindo coisa como: “Sandraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, a galinha ficou mal passada.” Faltou pouco para dizer a ela quem era a galinha mal passada. “Sandraaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, você está atrasada.” “Desculpe, o ônibus quebrou.” “Porque não pegou um que não quebrasse?” Eu sou vidente por acaso?
                As pessoas esquecem, que pobre também é gente. Em pleno século XXI, certos preconceitos ainda não foram esquecidos e duvido muito que serão.  Devem achar que eu pedi pra ser escrava do fogão, essa foi à única opção viável, ou era isso ou então morrer de fome.
                Cuidei de tudo que era necessário na casa, tentei deixar só o básico para amanhã, sempre faço isso próximo a folga. Acabei me atrasando, já eram 6 horas da noite. O último ônibus já estava saindo, corri para estação, enquanto rezava para ele ter se atrasado. Mas pelo visto a única atrasada aqui era eu. Acabei tendo que pegar um alternativo, um pouco mais caro que o ônibus, e nem por isso mais confortável, havia quatro pessoas no banco traseiro, eu, uma senhora com seu bebê e um jovem de aproximadamente 20 anos. O jovem descera numa cidade próxima, a capital, trocou poucas palavras com os passageiros, só disse que estudava na capital. A senhora estava entretida demais com o filho. Conforme as cidades chegavam as pessoas desciam. Ao ponto de ficar apenas eu e o motorista. Já era aproximadamente umas 7 horas e ainda faltava mas uns 30 minutos de estrada. Ele começou a me olhar pelo espelho do retrovisor. A velocidade do carro começou a diminuir ao poucos, até que ele parou. Eu forçava a me acreditar que não era nada do que eu pensava, um pneu havia estourado, ou algo assim. “O que aconteceu?” – perguntei. “Nada. Ainda irá acontecer.” – respondeu com um sorriso malicioso e perverso.

Um comentário: